O lado sombrio de um ex-goleiro da Seleção Brasileira no período da Ditadura Militar

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Por Rogério Salgado*

Em 17 de abril 2016, o então deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PP/RJ), num gesto de sadismo desumano homenageou o Coronel Brilhante Ustra em seu voto pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o que naturalmente repercutiu negativamente na mídia internacional. E este mesmo deputado, que se tornou presidente do Brasil tem como livro de cabeceira, “A verdade sufocada”, de autoria deste mesmo ex torturador Brilhante Ustra, que de brilhante só tem mesmo a cara ilustrada com olho de peroba, pois deveria ter sido condenado por seus crimes de tortura e o mesmo devia acontecer aos que incitam e apoiam seus atos.

Apoiar a tortura é crime e um ato anticristão e estamos vivendo um antagonismo complicado no país com pessoas que apoiaram e falam bem dos tempos da Ditadura Militar, que renomeam como Período Militar ou Regime Militar, e que tem como admiradores\eleitores uma grande ala de pessoas que se dizem evangélicas e espíritas kardecistas, que pregam amor ao próximo como exemplo de Jesus Cristo, mas se esquecem que Cristo, antes de ser assassinado pelos judeus e romanos, foi barbaramente torturado nos porões do Palácio de Pôncio Pilatos.

Todo cidadão esclarecido sabe que Brilhante Ustra era um torturador e o choque maior é descobrir até hoje que entre os que entregavam pessoas para serem torturadas por serem informantes dos ditadores estão pessoas que são admiradas por seus feitos esportivos, artísticos, políticos e outras destacadas atuações. Soube recentemente que um desses “dedos-duros” é o goleiro Gylmar dos Santos Neves. Em 14 de fevereiro deste ano, o blog de Juca Kfouri, ex-diretor da revista “Placar” destaca que o ex goleiro da Seleção Brasileira era despachante do DOI-CODI, o Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna, braço das Forças Armadas, nos anos da ditadura militar, local no qual seres humanos adolescentes, mulheres grávidas ou não, idosos e até crianças foram torturadas de maneira perversa pelo Coronel Brilhante Ustra (motivo de matéria da Folha de São Paulo, datada de 16 de fevereiro deste ano). Dentro dos gramados, o goleiro Gylmar fez história pelo Corinthians e Santos, além de marcar época na Seleção Brasileira. Pelo Alvinegro praiano foram mais de 15 títulos, incluindo o Campeonato Brasileiro, Libertadores da América e Mundial de Clubes. Vestindo a Amarelinha, conquistou a Copa do Mundo de 1958 e 1962. Adriano Diogo, deputado que presidi

u a Comissão da Verdade em São Paulo e foi preso e torturado naqueles anos de chumbo, afirmou que Gylmar colaborou com a ditadura militar brasileira e frequentava os porões da ditadura. “Gylmar era despachante do DOI-CODI. Andava pelos andares da delegacia onde se torturavam e matavam presos.” Gylmar dos Santos Neves morreu em 2013, aos 83 anos.

Para que não esqueçamos nossa história: há 58 anos, na madrugada do dia 1º de abril de 1964 (oficializaram como 31 de março, para não parecer mentira) ocorreu o início da Ditadura Militar no Brasil, que na verdade foi um Golpe Militar, que usou como discurso conter o “risco” de ser implantado uma ditadura comunista por aqui. E durante os 21 anos deste período militar, tivemos torturas barbaramente legalizadas, mortes clandestinas pela própria constituição vigente na época, pessoas desaparecidas e assassinadas pelo regime, alguns corpos foram descobertos em covas clandestinas tardiamente. Tivemos também um Ato Institucional nº 5, o tenebroso AI-5, promulgado dia 13 de dezembro de 1968, levando o país a ter oficialmente a suspensão dos direitos políticos dos cidadãos brasileiros, com a prisão, tortura e até mesmo assassinato de quem não concordava com o regime da época, legalizado oficialmente.

Muitos desconhecem esse lado sombrio de seu próprio país, outros conhecem e sentem vergonha pelo Brasil ter vivido uma época como essa, outros insensíveis e até religiosos praticantes, pedem a volta de tudo isso que aconteceu na nossa história. Vamos pensar, antes de tudo, vamos pensar e não apagar este tempo da história, mas trazer à memória para afirmar: Ditadura Nunca Mais!

*Poeta com 47 anos de carreira profissional e um cidadão brasileiro, sem vínculos partidários, que faz análises críticas sobre fatos da história do Brasil.