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40 anos da Revista Arte Quintal é celebrado com evento cultural na Casa Matriz

FLYER ARTE QUINTAL (1)

Numa realização do IMEL – Instituto Imersão Latina, com coordenação da jornalista Brenda Marques Pena, será realizado na Casa Matriz, à avenida Álvares Cabral 400, centro de Belo Horizonte, dia 27 de abril próximo, às 19h30, com entrada Gratuita, um bate papo com os poetas Rogério Salgado e Wagner Torres, sobre a trajetória da Revista Arte Quintal, iniciada em 1983. O encerramento se dará com apresentação do músico e compositor paraibano residente em Minas Gerais, Nélio Torres.

Rogério Salgado e Wagner Torres

Tudo começou com um sonho. Em 1982, dois anos após sua chegada a Belo Horizonte, vindo de Campos dos Goytacazes-RJ, sua cidade natal, o poeta Rogério Salgado conheceu Ecivaldo John, outro sonhador, atualmente residindo nos Estados Unidos da América e Virgínia Reis, que depois de publicar dois livros de poesia, hoje é médica em Santa Luzia, interior de Minas Gerais. Venderem rifas, realizarem pedágios nos semáforos pedindo ajuda para a realização deste sonho, veio à tona dia 13 de março de 1983, o Jornal Revista Arte Quintal, com um lançamento no extinto Bar Nós Todos, na Savassi, com casa lotada de pessoas querendo conhecer a novidade.

Nesse tempo, a revista já havia recebido de braços abertos outro poeta que faria parte da equipe: era o poeta Wagner Torres. Logo o jornal passaria a se chamar definitivamente Revista Arte Quintal, publicando assuntos culturais em geral, como literatura, cinema, teatro, artes plásticas, etc.

No início a revista passou a ser vendida nos bares à noite e numa dessas caminhadas conheceram o compositor Toninho Camargos, que foi o primeiro assinante. E nessas caminhadas foram conhecendo outras celebridades, tais como o compositor Gonzaguinha e o escritor Cunha de Leiradella, que se tornaram admiradores da revista. Aos poucos a revista foi tomando força e passou a ser conhecida nacionalmente, tendo assinantes de outros estados brasileiros e até do exterior, transformando-se em editora, publicando vários títulos em nove anos de existência.

Um dos fatores históricos da Arte Quintal foi a sua participação direta no Movimento das Diretas Já, com nomes como Fernando Brant, Oswaldo França Júnior e Titane, entre outros. E foi também através da revista que surgiu a ideia daquele que seria o maior encontro de ativistas culturais do estado de Minas Gerais, o EPC-Encontro Popular de Cultura, em 1985, reunindo mais de dois mil fazedores de cultura na capital mineira.

Na verdade, como dizia o poeta Márcio Almeida, essa rapaziada não sabia o poder que tinham nas mãos, o que representavam, a sua força. Para se ter uma ideia, a maioria dos intelectuais vinham a Belo Horizonte conhecer o Suplemento Literário do Minas Gerais, então na Avenida Augusto de Lima, onde se reunia e trabalhava intelectuais como Murilo Rubião, seu criador, Adão Ventura e Wander Piroli, só para citar alguns. O Palácio das Artes era outra leva de curiosidade. Já a Arte Quintal era também passagem obrigatória, nessa espécie de roteiro cultural, alojados em uma sala no 8º andar da Rua Carijós, 150, onde se discutia política, arte e cultura. A partir da sétima edição da revista, tiveram a adesão de Rainer Públio na equipe.

Mas a partir do Plano Collor, em 1991, a Editora Arte Quintal começou a passar por uma crise financeira. Artistas fizeram shows para ajudar, tais como o saudoso Marku Ribas, Ladston do Nascimento, entre outros. Fizeram um bazar no Palácio das Artes e escritores, tais como Roberto Drummond, Jorge Fernando dos Santos e tantos mais, doaram seus livros numa forma de ajudar e foi aí que o Wagner Torres teve a ideia de dar uma última cartada: a produção de uma antologia de contos mineiros, intitulada “Flor de vidro”, título de um conto do escritor Murilo Rubião, gentilmente cedido pela sua família para ajudar, assim como dos outros autores que abriram mão de seus direitos de autores. O livro considerado uma importante reunião de autores mineiros, de veteranos e estreantes, teve seu lançamento oficial no Projeto Minas Escreve, da Caixa Econômica Federal, dia 16 de dezembro de 1991. Mas, poucos exemplares foram vendidos, apesar de sua enorme importância para a literatura brasileira, como um divisor de águas na editoração de livros de contos, na história da literatura nacional. Foram 48 autores entre iniciantes e consagrados, numa reunião de quatro gerações, juntando realismo fantástico, pop, erótico, impressionismo, pós moderno, num livro que marcou uma época.

Com capa da artista plástica Yara Tupinambá e ilustração de Celso Siffert, o livro reuniu, entre outros autores: Murilo Rubião, Oswaldo França Júnior, Carlos Herculano Lopes e Cunha de Leiradella. Mas seus editores não aguentaram a crise e num dia qualquer de 1992, que seus personagens já nem lembram devido ao trauma que passaram, a Editora Arte Quintal fechou suas portas e entrou para a história cultural desse país. Em 2018 Rogério Salgado publicou o livro “Naqueles tempos da Arte Quintal” contando essa história, livro este praticamente esgotado.

Evento: Naqueles tempos da Arte Quintal
Data e horário: 27 de abril, quinta-feira às 19h30
Local: Casa Matriz, à av. Álvares Cabral 400, centro de Belo Horizonte.
ENTRADA FRANCA